domingo, 21 de março de 2010

A Estrada de Tijolos Ensangüentados(2) - Um Breve Estudo do Horror e Suas Décadas


*1930 - 1939*
Os Monstros se Popularizam
"Está vivo! Está vivo!", grita o barão Frankenstein ao ver seu monstro levantar-se. Sim, eles estavam. Nascia então uma nova safra de grandes lendas do horror, que teriam seus nomes gravados por toda a eternidade. Não só os monstros, mas também as mentes brilhantes que os deram vida. EUA, 1931. As lentes focavam agora a primeira obra sonora da Universal -obra prima, por sinal. Drácula (Dracula), com Bela Lugosi sob direção de Tod Browning viria para impressionar-nos com todo seu clima onírico e subliminar. Mais inspirado na peça de Hamilton Deane do que no romance de Stoker, Drácula nos apresenta pela primeira vez à figura galanteadora do vampiro que conhecemos hoje. Browning já havia dirigido obras importantes na década anterior, mas a peça chave era o húngaro Bela Lugosi, que com sua magnífica interpretação de escola teatral, abriria portas para toda uma legião de mestres. O próximo da vez seria Frankenstein (Frankenstein), também de 1931, baseado na obra de Mary Shelley e dirigido por James Whale. Após Bela Lugosi ter recusado o papel por considerar o personagem desprovido de charme, o monstro seria personificado por aquele que seria também uma nova lenda: Boris Karloff, o qual precisava dormir sentado e com a cabeça apoiada para não estragar a maquiagem, a qual levava aproximadamente doze horas para ser feita. No ano seguinte, Karloff estrelaria também A Múmia (The Mummy - 1932), dirigido por Carl Freund. O filme narra a história de outro famoso personagem, Imhotep, o faraó que volta à vida para reencontrar seu amor. Claude Raines viria também para estrelar o magnífico O Homem Invisível (The Invisible Man), obra 1933 também dirigida por James Whale. Mas é em 1935 que é produzido o filme considerado o melhor da produtora, A Noiva de Frankenstein (Bride of Frankenstein), que contava novamente com Whale na direção e Karloff como o monstro e, para encarnar a noiva, a magnífica Elza Lanchester.
Enquanto isso, na Inglaterra, surgia uma outra figura que, seguindo a mesma fórmula de escola teatral de Lugosi, porém muito mais sádico e cínico, tornaria-se uma lenda que inspiraria toda uma geração. Tod Slaughter é seu nome. Tão importante quanto e merecedor do mesmo respeito dos da Universal, Slaughter estrelou -além de muitos outros- filmes como Sweeney Todd, o Barbeiro Demoníaco de Londres (Sweenwy Todd, the Demon Barber of Fleet Street), de 1936 e Um Vulto na Janela (The Face at the Window), de 1939, ambos dirigidos por George King. E é aqui que nasce uma nova tendência então inédita nos EUA, o surgimento de uma violência verbo-visual conhecida como grand guignol, um horror mais sádico que mais tarde poderámos ver em nomes do quilate de Hershell Gordon Lewis, Roger Corman, José Mojica Marins e muitos outros e, atualmente, inspiraria o contemporâneo torture porn.
A nova década então nos presenteava com novas lendas. Mas alguém estava faltando. Alguém que diante da lua cheia uivaria seu nome para então cravar suas garras no mundo do horror: o Lobisomem. O primeiro -porém menos conhecido- da eterna história do homem-lobo é A Fera de Londres (The Werewolf of London), de 1935, estrelado por Henry Hull e dirigido por Stuart Walker. O quinteto de monstros mais famoso e clássico da história do cinema estava quase formado: Drácula, Frankenstein, a Múmia, o Lobisomem e... O quinto? Pense em uma lagoa escura e aguarde duas décadas.
15 obrigatórios
Drácula (Drácula - 1931) dir. Tod Browning
Frankenstein (Frankenstein - 1931) dir. James Whale
A Noiva de Frankenstein (Bride of Frankenstein - 1935) dir. James Whale
O Homem Invisível (The Invisible Man - 1933) dir. James Whale
A Fera de Londres (The Werewolf of London - 1935) dir. Stuart Walker
O Vampiro de Düsseldorf (M - 1931) dir. Fritz Lang
A Múmia (The Mummy - 1932) dir. Karl Freund
Monstros (Freaks - 1932) dir. Tod Browning
O Corcunda de Notre-Dame (The Hunchback of Notre-Dame - 1939) dir. William Dieterle
O Médico e o Monstro (Dr. Jeckill and Mr. Hyde - 1932) dir. Rouben Mamoulian
Zumbí Branco (White Zombie - 1932) dir. Victor Halperin
O Gato Preto (The Black Cat - 1934) dir. Edgar G. Ulmer
A Filha de Drácula (Dracula's Daughter - 1936) dir. Lambert Hillyer
Um Vulto na Janela (The Face at the Window - 1939) dir. George King
Sweenwy Todd, o Barbeiro Demoníaco de Londres (Sweeney Todd, the Demon Barber of Fleet Street - 1936) dir. George King

sábado, 20 de março de 2010

A Estrada de Tijolos Ensangüentados(1) - Um Breve Estudo do Horror e Suas Décadas


*1900 - 1929*
O Início de Tudo
É certo afirmar que o cinema de horror não iniciou-se originalmente na Alemanha, pois na primeira década do século XX, outros países flertaram com o gênero, como a França, Suécia e os EUA -até mesmo Thomas Edison produziu uma versão de Frankenstein em 1910. Mas são sim os chucrutes que merecem o mérito, pois foram eles que cimentaram o primeiro tijolo na estrada do horror. Em 1913 é produzido O Estudante de Praga (Der Student von Prag), de Stellan Rye, reconhecido como o primeiro registro alemão no gênero. Mas é apenas em 1919, em uma Alemanha amedrontada por um presente pós-guerra que nasce uma das mais incômodas obras do gênero, O Gabinete do Dr. Caligari (Das Kabinett des Doktor Caligari), exemplo típico do expressionismo dirigido pelas mãos de Robert Wiene e estrelado pela magnífica dupla Werner Krauss e Conrad Veidt. O famoso cenário bizarro e repleto de sombras e imagens distorcidas ficou à cargo de nomes famosos do expressionismo, como Reinman, Röhrig e Warm.
A porta então estava aberta para que na década seguinte surgissem grandes nomes da história, que formariam, junto com Caligari, o berço do gênero. F.W. Murnal é um dos mais importantes. Responsável pelo magnífico Nosferatu (Nosferatu, eine Symphonie des Gravens), de 1922, filme que contava com a interpretação do brilhante Max Schreck, em uma personificação vampiresca jamais esquecida. Murnau também assina obras igualmente famosas da época, como A Última Gargalhada (Der Letzte Mann), de 1924 e Fausto (Faust), de 1926, baseado na obra de Goethe. Fritz Lang viria também para dirigir obras do quilate de Metropolis (Metropolis), de 1927 -este envolvendo mais a ficção- e na década seguinte, O Vampiro de Düsseldorf (M), de1931. Além de Wine, Lang e Murnau, outos nomes como Paul Wegener e Paul Leni também ajudaram a engrandecer o gênero. Já na Suécia, teríamos obras como A Carroça Fantasma (Körkalen), dirigido por Victor Sjorstrom em 1921 e A Feitiçaria Através dos Tempos (Haxan), de 1922, levada às telas por Benjamin Christensen.
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, nos EUA, nasciam MGM e Universal Pictures, dois grandes estúdios que cimentariam sua parte na estrada do horror, para que então surgisse uma das maiores lendas que o cinema já conheceu: Lon Chaney, o homem das mil faces. Primeiro ator a se especializar no gênero, Chaney protagonizou uma grande quantidade de fitas de horror nos anos 20 - ao longo de sua carreira foram 140-, como O Vampiro da Meia-Noite (London After Midnight - 1927), O Monstro do Circo (The Unknown - 1927), ambos da MGM, com direção de Tod Browning, e os mais famosos e antecessores O Corcunda de Notre-Dame (The Hunchback of Notre-Dame - 1923), de Wallace Worsley -produção genuína que contava com uma réplica da catedral francesa- e O Fantasma da Ópera (The Phantom of the Opera - 1925), dirigido por Rupert Julian, os quais são levados às telas pela Universal. Além dos filmes que contém a presença de Chaney, é nesta década -antes dos já citados, é claro- que é produzido também um dos maiores marcos do horror americano, O Médico e o Monstro (Dr. Jekill and Ms. Hyde-1920), de John S. Robertson e estrelado por John Barrymore, o patriarca da família Barrymore. Nesta altura do campeonato, os EUA já mostravam sua grandiosidade que teriam no cinema de horror, para que então o estúdio da Universal Pictures criasse os tão famosos personagens que conhecemos hoje, os quais fariam parte do imaginário de qualquer um. E relmente, eles o fizeram.
15 Obrigatórios:
O Gabinete do Dr. Caligari (Das Kabinet des Dr. Caligari - 1919) dir. Robert Wiene
O Fantasma da Ópera (The Phantom of the Opera - 1925) dir. Rupert Julian
O Corcunda de Notre-Dame (The Hunchback of Notre-Dame - 1923) dir. Wallace Worsley
Waxworks (Das Wachfigurenkabinett - 1924) dir. Paul Leni
O Morcego (The Bat - 1926) dir. Roland West
O Médico e o Monstro (Dr. Jekill and Mr. Hyde) dir. John S. Robertson
O Estudante de Praga (Der Student von Prag) dir. Stellan Rye
Metropolis (Metropolis - 1927) dir. Fritz Lang
O Golem (Der Golem - 1920) dir. Paul Wegener
O Monstro do Circo (The Unknown - 1927) dir. Tod Browning
A Última Gargalhada (Der Letzte Mann - 1924) dir. F.W. Murnau
A Feitiçaria Através dos Tempos (Haxan - 1922) dir. Benjamin Christensein
Nosferatu (Nosferatu, ein Symphonie des Grauens - 1922) dir. F.W. Murnau
Fausto (Faust - 1926) dir F.W. Murnau
A Carroça Fantasma (Körkalen - 1921) dir. Victor Sjostrom

sexta-feira, 19 de março de 2010

SAUDAÇÕES!

Há muitas décadas que o horror vem mexendo com o imaginário do mundo por onde quer que ele passe. Afinal, o que seria da sétima arte sem este que seja talvez o gênero mais singular da história? Nem mais nem menos importante, mas sem dúvida o mais influente, dando margem à inúmeras variações artísticas inspiradas no fantástico. Ao longo de toda sua história, o horror nos presenteou com inúmeros mestres, divas, lendas e personagens que chegam a fazer parte do folclore popular -afinal, o que seria de uma sexta-feira 13 sem Jason Voohes ou uma praia sem Tubarão? Há também as famosas vertentes paralelas que até hoje recheiam as discussões em rodas de amantes do gênero, como o slasher, o gore, o trash, o splatter, o torture porn e muitas outras. O horror poderia ser comparado ao rock, pois assim como este, há muitas áreas distintas a serem discutidas. E é isso que faz dele algo tão belo, pois permite discussões que vão de obras-primas à bombas em potencial. Vale citar também que ele é vítima de uma marginalização e um preconceito absurdamente estúpido, talvez por uma certa tendência da sociedade em manter-se com os pés no chão e não permitir-se enxergar além, pois o horror transcende limites e nos faz ver tudo que o cotidiano não nos permite ver, transportando-nos a locais onde a realidade é relativa e o mundo é abstrato, para que assim possamos ser apresentados a zumbis canibais, cenobitas do inferno, gêmeas esquartejadas, chuviscos de televisão fantasmagóricos e todo o resto que transborda no desconhecido. E é com extrema dedicação que inauguro este blog homenageando o fantástico, o qual marcou minha infância e de meu irmão -meu maior companheiro de sétima arte- e nos acompanha até hoje. Aqui estarei postando textos sobre vários assuntos que rondam o gênero, além de contos e alguns poemas de horror -todos de minha autoria. Espero que esta amplitude cinematográfica continue por toda sua eternidade a nos presentear com seus mestres e obras, fazendo-nos espiar pela fechadura da porta que nos leva ao fantástico, onde louvamos o horror nosso de cada dia.


"O que é a vida?

É o princípio da morte.

O que é a morte?

É o fim da vida.

O que é a existência?

É a continuidade do sangue.

O que é o sangue?

É a razão da existência."


( Zé do Caixão em à Meia-Noite Levarei Sua Alma, de 1963 )